segunda-feira, 30 de julho de 2007

Budapeste

- - - de Rafael, para o na Vitrine.

"O Danúbio, pensei, era o Danúbio mas não era azul, era amarelo, a cidade toda era amarela, os telhados, o asfalto, os parques, engraçado isso, uma cidade amarela, eu pensava que Budapeste fosse cinzenta, mas Budapeste era amarela."


clique para ampliarEssa, a frase que me conquistou por duas vezes, ainda na primeira sessão de Budapeste. Não só pelo amarelo (eu gosto de amarelo), mas, espera lá, o Chico tem uma força tão incrível com as palavras e as imagens que ler um livro seu é de tirar o fôlego. É magiar.

Ta aí mais um enredo banhado -- encharcado! -- em metalinguagem. Ao que parece, todo artista tem paixão por isso, dizer-se em si. E em Budapeste temos uma busca constante pela comunicação perfeita, estando o protagonista aqui, em sua fala natal, ou na capital da Hungria. José Costa, um escritor anônimo, nos é apresentado em sua crescente carreira na qual lhe enche de vaidade estar suas palavras sob a autoria de outra pessoa. É quase como um adultério a profissão de ghost-writter, tão séria que nem na intimidade com Vanda lhe é permitido quebrar o anonimato. Mas acontece de esse mesmo escritor parar um dia, meio que por acaso, em Budapeste. Perdido no labirinto de informações húngaras, a única língua, diz-se, que o diabo respeita, um sentido novo desperta nele; e aprender o húngaro parece ter se tornado a sua nova concubina, um objetivo de vida.

Os dois cenários do livro, Rio de Janeiro e Budapeste, implicam também dois idiomas, duas atmosferas, duas companhias, duas necessidades, enfim, duas vidas distintas. Essa dicotomia é nítida. Mas ainda assim, a trilha de fundo de ambos os momentos é a essência do livro, que é a linguagem. O romance suscita falar e escrever. Mais que qualquer outra necessidade, nosso Zsozé Kósta precisa essencialmente desses dois verbos. Sempre para si próprio, porque sua vaidade não permite também qualquer forma de ambição. E qualquer pessoa sensível às artes é capaz de compreender isso. É um livro que só faz fertilizar qualquer forma de criatividade.

Tudo isso em um estilo encantador. Chico Buarque não escreve, desenha palavras, rubrica emoções e faz despertar o prazer de ser artista. Genial.

4 comentários:

la texana disse...

é, já falei e repito, metalinguagem é a melhor invenção de todas. budapeste é um daqueles livros que mesmo sendo em prosa é poetico. melhor, lirico, como é o chico em si.

Renata disse...

Tem esse livro aqui em casa... Um dia eu leio XD

Leo|mascaro disse...

opa!
tem coisa pra vocês lá no blog!
dêem uma olhada!!
http://repertoriocultural.blogspot.com/

abraço!

Flávio A disse...

eu li esse livro no último semestre, ganhei de aniversário. presentão. é daqueles que você termina e fica com gosto de quero (muito) mais. fiquei com vontade de ler outros livros dele.

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