- - - de Tereza, para o na Vitrine.
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 138 min
O terceiro e o quinto filme da série Harry Potter são os melhores. Por que? Dizem que a maneira mais fácil e eficaz de chamar a atenção do ser humano é através do sexo e da violência. O terceiro filme fala sobre sexo, esse sobre violência. Por que o terceiro ainda é melhor? Bom...
A cena que resume o que é o quinto filme se dá perto do final, quando Dolores Umbridge (Imelda Staunton), sem aviso, sem pensar nas consequencias, com barulho em meio ao silêncio dá um tapa violento em Harry. É isso que David Yates, o quase novato diretor, faz com o espectador, machuca tão rápido que ele mal percebe, mas ainda assim dói.
O filme é político e só por isso já carrega em si a violência. A violência de um governo que manipula cidadãos e a impressa a pensar que a guerra não existe, que tudo não passa de traição, traição à nação, traição à toda uma raça. A negação pode ser a maior das violências e não é por acaso que o Ministro (cargo mais democrático impossível) tem sua foto estampada aos molde de um certo Fuher, só faltando uma suástica para ficar mais claro. Mas Harry Potter é, felizmente, mais sutil que isso.
Até agora foram dois vilões, e ainda nem comecei a falar do Voldemort. E adivinhem, não é tudo mais um plano maléfico para a conquista do mundo, os "mocinhos" fazem mal uns aos outros. O mundo não é mais o que era antigamente.
Voltando a Umbridge, até agora a mais eficaz vilã dos filmes, começa achando que sua influência se dará através do soft power (já viram "O Dia em que o Brasil esteve aqui?") mas perde o controle rapidamente diante da convicção de Harry, uma mentira contada cem vezes se torna uma verdade, mas é mais difícil convencer aqueles que já sofreram demais por causa dela. Sangue mancha a reputação de Hogwarts, finalmente deixando de ser percebida como um refúgio, e não é sangue de batalhas. As palavras são mais fortes do que a espada. Umbridge não é nada burra.
Felizmente Hermione Granger, assumindo posto de segunda protagonista, também não. Acertadamente Yates expande o tempo dela no filme, difícil uma cena em que sua presença, física ou não, não é sentida. Só um personagem complexo como ela compreenderia tudo o que
está se passando, e por isso muitas vezes o ponto de vista é o dela, ela observa muito e passa boa parte do filme sentindo e maquinando. Porém como é uma jornada emocional, apenas quando a professora que ela menos respeita é humilhada publicamente resolve tomar uma atitude. A cena é excelente inclusive. Emma é capaz de em alguns segundos demonstrar tudo o que se passa na mente e coração do personagem, sem falar nada. Você quase pode ver a linha de raciocínio e o segue sem grandes problemas. Rebelião é a resposta, quebrar com o sistema que ela tanto ama e tira forças é a melhor saída.
Pode-se argumentar que ela é o cerébro do trio mas aqui ela atua como o coração. Nada deixa de ser racional, mas o que a motiva é o que ela sente, essa vontade de deixar o mundo mais seguro nem que seja as suas custas.
A cena em que o espelho se quebra com a imagem dela refletida diz tudo. Esqueçam aquela antiga Hermione, aquela velha imagem, a nova vai guiar vocês, a nova é uma líder.
Pela primeira vez o filme focaliza na amizade dos três, e talvez por isso pela primeira vez Rony não me irrita. Ele age com um bom amigo que já se acostumou a ser o menos especial da turma e que não se incomoda com isso. As pequenas cenas em que eles estão apenas conversando, coisas importantes ou não, são jóias. A ação fica pra depois, quando Harry finalmente entende que eles estão nisso juntos.
A tensão permeia o tempo todo. É o menos engraçado (e engraçadinho) de todos, a única cena em que eu ri foi a da apresentação da personagem tragicômica Luna Lovegood, não que ela seja uma piada, mas sim porque ela é fodástica demais. Uma sabedoria tão excentrica ficaria ridícula nas mãos de uma atriz menos competente, mas Evanna Lynch dá conta do recado. Ela foi feita para o papel, comparando-se apenas à escalação da Emma, anos antes. Em momento algum perde-se a impressão que ela sabe mais do que todos os outros personagens juntos, até mesmo quando está sendo judiada. Ela já aprendeu a lidar com a violência e daí vem seu charme. Harry tem que aprender dela também.
Não vale muito a pena discorrer sobre Neville e Gina, já que os papéis são mais que secundários. Se eu não tivesse lido os livros provavelmente me perguntaria o que eles estão fazendo quando invadem o ministério, por que eles estão ali. Sejamos francos, os gêmeos tem uma papel mais importante que esses dois.
Quanto ao Harry, acho que concordo com a maioria das escolhas feitas nesse filme. Cortarem as inúmeras crises emo que o rapaz tem no livro e condensa-las em apenas uma foi o melhor caminho, existe assim mais espaço para o crescimento emocional verdadeiro. Finalmente mais confortável no papel de líder (com um empurãozinho de Hermione, é claro) as cenas do DA são uma delícia, se houve algo light foram elas. Mas não devemos esquecer que todas tinham um objetivo maior, defesa, para se defender de Voldemort, mas também para se defender da opressão. Para se defender da violência imposta pelos "mocinhos".
E quando finalmente ele tem que pôr essa defesa a prova, falha na metade do teste. Aprendeu a contornar e evitar a opressão, mas mesmo assim todos seus amigos, seu companheiros de batalha, caem sob jugo inimigo e seus destinos estão em suas mãos. E é hora de fazer a escolha mais difícil, condenar o mundo mágico (e o trouxa) às trevas ou assistir os amores da sua vida serem mortos na sua frente, quando você podia evitar. Harry faz a escolha certa, e mesmo assim paga. Daniel nunca esteve melhor do que na cena do exorcismo, com um gesto, um olhar, ele se torna Voldemort, no outro volta a ser Harry. Novamente, tão rápido e violento que você mal percebe. Você mal respira. E o desfecho é tão desesperançoso que dá vontade de chorar. Chorar pela beleza, não pela tristeza.
Essa é a história básica do filme, mas algumas coisas ainda valem a pena mencionar. Talvez seja confuso entender porque eu afirmei que o terceiro filme é sobre sexo se é nesse que Harry finalmente beija a sem-gracinha Cho Chang. Bom, beijo sem química não significa nada, e se algo falta aos dois é isso. Já a Emma tem química até com um poste então encerro meu caso.
Voldemort é mais assustador quando não está presente, principalmente quando na batalha com Dumbledore fica claro que ele leva certa desvantagem. Gosto mais deles nos sonhos (e que cenas mais lado negro da força são aquelas). Mas eu gosto muito de todo o simbolismo do Voldemort rasgando o poster propagandista de Fudge. Um mau maior.
O filme é pontuado pelo silêncio e pela escuridão, o ritmo é fantástico, sem deixar de ter brincadeiras de câmera e referencias que só enriquecem, esse é um filme de verdade, não apenas uma adaptação de livro. O momento mais barulhento e colorido, protagonizado pelos gêmeos, é logo quebrado pela literal queda de Harry. E que cena é aquela! Sei que câmera lenta é brega, mais funciona tão bem ali! De novo, Emma Watson faz tão bem o papel de protetora.
Saí do filme sem fôlego e com gostinho de quero mais. Esse merece um lugar na estante.